17.10.11

Hollow

Me pergunto se seria pedir demais férias da vida. Um tempo sem ter que lidar com nada, apenas para observar e resolver, mesmo que mentalmente, todas as inquietações próprias dos mortais. Seria muito útil poder "pausar" tudo e apenas relaxar. Não relaxar fisicamente, mas sim relaxar do mundo, relaxar das pessoas, relaxar da rotina.
Entretanto eu acho que penso demais. Analiso, repenso e penso de novo. Uma vez um amigo me disse: "você é muito preocupado". Desde então me encontro numa batalha árdua contra o "overthinking", mas não acho que consigo vencer. Porque é tão difícil... tão difícil reverter essa casca, essa armadura de carne que me envolve. Então eu espero, eu espero até que eu descubra um motivo pra me tornar melhor, um motivo pra querer me levantar todos os dias.
É como se eu vivesse em uma grande e enorme névoa cinzenta de vazio. Mas não foi sempre assim. Houve momentos em que eu acreditava estar vivo. Inesquecíveis são aqueles primeiros anos no ensino médio. Foram anos como todos os outros com um pequeno detalhe, mas que fez total diferença: eu gostava de quem eu convivia. O que aconteceu com essas pessoas depois dessa época não vem ao caso, mas sem dúvida conheci grandes amigos, que adoro até hoje, alguns menos, outros mais, mas sem duvida adoro-os.
Mas não vivo no passado e sim no presente. Presente da ausência, da inquietação, da vontade de matar quem eu amo, da vontade de amar quem eu odeio, do medo de mim mesmo, da carência, do vício, do tédio, e principalmente, presente do vazio. Essa é a jornada do sábio, que ao contrário do herói guerreiro, não se fere na carne, mas sangra até a morte pela alma. Há então a seca de vida, seca de arte. Daquelas linhas de grafite sobre o papel, nada surge. Nada relevante pelo menos. As horas de pratica se tornam um castigo, quando se revelam inúteis. Talvez o problema não seja a habilidade de quem cria, porque quando a obra tem pré-determinações, tudo flui como o sangue em nossas veias. Porém nada surge quando o importante é a percepção pessoal. Tudo é cinza e silêncio. Tudo é sem graça, sem gosto, sem rosto.
E no final eu sempre volto ao nada. Não crio, não festejo, não convivo, não sinto, não vivo e principalmente, não choro. E isso me incomoda profundamente. Eu tento, juro que tento chorar. Juro que tento liberar todo esse ódio, toda essa tortura, mas simplesmente não consigo. Eu poderia me apresentar às pessoas da seguinte forma: "Meu nome é Gabriel, e eu não choro a 6 anos". Pode parecer engraçado, pode até parecer um talento, mas tanto tempo nesse vazio te faz acostumar com tudo tanto quanto te faz querer mais e mais uma existência mais real, mais profunda. Mas cheguei a conclusão de que sou daqueles que preciso de algo mais "hardcore" pra chorar. Não no sentido de mais dramático em um nível geral da população. Algo mais significativo pra mim, só pra mim. E esse é o grande problema, como resolver o problema do choro se eu não vivo o suficiente pra chorar, e essa falta de vivência é exatamente o motivo de eu querer tanto chorar? Só posso acrescentar que me sinto em um ciclo vicioso. Ciclo que me guia ao nada, meu amigo/rival, que ao mesmo tempo que me protege da insignificância das pessoas, me confina em uma grande e dolorosa roda de tortura.
Gostaria que tudo fosse mais simples. Mais "clean". Gostaria que as pessoas só cobrassem o que podem oferecer e que não fossem tão medíocres. Gostaria que problemas pessoais (ou no meu caso impessoais) não interferissem na minha habilidade de criação, que é o único alívio pra essa existência tão aleatória e inútil. Gostaria de chorar, não por besteiras, mas pelos belos filmes e músicas que consumo - "vício que criei na tentativa de sentir algo mais". Mas nem tudo é como gostaríamos, e isso está mais do que claro pra mim.
Então eu caminho.
Eu rastejo.
Eu espero.
Eu pereço.
Eu atrofio.
Eu cresço.




Nenhum comentário:

Postar um comentário